Eliziane e Edivaldo irão se enfrentar em 2016. Flávio Dino será o "fiel da balança"
Por
Hugo Freitas
A
deputada federal e pré-candidata à Prefeitura de São Luís, Eliziane Gama
(REDE), que lidera todas as pesquisas de intenções de voto já realizadas até
aqui, terá um grande desafio político-eleitoral neste ano. E não é o pleito de
outubro.
Eliziane
inaugurou 2016 divulgando um vídeo gravado em frente ao Palácio de La
Ravardière, sede do Executivo municipal, onde reafirma sua disposição em
concorrer à cadeira de prefeito da capital maranhense. Além disso, Gama postou
em seu perfil no Twitter a foto de um ônibus sendo engolido pela erosão
ocorrida num bairro da ilha, imagem que se espalhou nas redes sociais e na
imprensa como rastilho de pólvora e que motivou a primeira postagem do ano aqui, no nosso Blog do Hugo Freitas (confira aqui).
A
tática de Eliziane é de mostrar os problemas de São Luís contrapondo-os aos possíveis erros, falhas e equívocos cometidos ao longo da gestão Edivaldo Júnior (PDT)
que, convenhamos, prezado leitor e querida leitora, deixou muito a desejar no que concerne às propostas e promessas de campanha.
Ocorre
que por mais que o governador Flávio Dino (PCdoB) venha reiterando publicamente
que não irá interferir nas eleições municipais, discurso que cai por terra
quando se observa, por exemplo, as fortes investidas do governo no cenário
político da segunda maior cidade do Maranhão, Imperatriz, ele não deverá assistir
de braços cruzados à derrocada de seu primeiro pupilo/afilhado político.
Edivaldo se tornou candidato e foi eleito prefeito com a fiança e o apoio de Flávio Dino, em 2012, aliança que se manteve vitoriosa em 2014
Flávio "bancou" a candidatura de Edivaldo, desde a sua escolha nas prévias partidárias até a vitória nas urnas, mas não com recursos financeiros, e sim com seu
capital político. Dino foi o fiador e o principal articulador e promotor da campanha de Holanda Jr. Com seu prestígio, força e influência, atuou junto aos líderes dos partidos integrantes da coalizão que se sagrou vencedora em 2012 e que se manteve unida, a contrapelos,
para vencer novamente em 2014.
Portanto,
uma eventual derrota eleitoral de Edivaldo será, sem sombra de dúvidas, uma
derrota política de Dino no tabuleiro que se configura com foco em 2018.
Nesse
sentido, para chegar forte na disputa em outubro, Eliziane deverá ficar entre a
cruz e a espada, concentrando suas críticas a Edivaldo e, ao mesmo tempo,
estreitando relações com Flávio, salvaguardando-o do mesmo olhar.
O uso
da analogia é proposital. Afinal, Gama descende de família de evangélicos e empunha a bandeira cristã com fé e convicção, tal
como Edivaldo. E ambos, cada um a seu modo e recursos, irão travar uma batalha
pela conquista desse novo filão do mercado eleitoral ludovicense. Contudo, sob a insígnia da
"cruz", Eliziane terá que se esquivar da "espada" que será
brandida pelos defensores da atual administração municipal. Dentre eles, o Palácio dos Leões, sede do governo estadual.
E isso
já vem acontecendo há algum tempo. A parlamentar parece querer evitar bater de
frente com a "muralha de ferro" que deverá ser erguida e colocada em
funcionamento pelo governador comunista em prol da blindagem de seu pupilo
neopedetista, vez que as duas poderosas máquinas administrativas, governo e prefeitura, estão unidas e assim deverão permanecer até o fim do mandato
dos comandantes de La Ravardière.
Ainda
assim, é pouco provável que haja uma espécie de "vida fácil" para a
deputada federal por conta de tal postura, de crítica ao prefeito e de
manutenção dos laços com o governador.
O
enfrentamento às duas máquinas será inevitável. No plano oficial/formal, como permite a legislação, os Leões deverão aumentar os esforços com publicidade para divulgar e transmitir a ideia
de uma "parceria que deu certo" com a Prefeitura de São Luís.
A
guerra será mais sensível na imprensa, onde batalhas diárias serão travadas
para se conquistar os corações e mentes do eleitorado. E, para tanto, a
"tropa de choque" que deverá ser acionada, mais uma vez, serão os
veículos midiáticos e seus escribas. E não só os "tradicionais", mas também os
digitais.
É
sabido que diversos media "jornalísticos" estão amarrados ao Governo
e à Prefeitura por meio das famigeradas verbas publicitárias. O mesmo ocorre
com os blogs, cuja proliferação em larga escala acabou produzindo uma espécie
de "feira midiática" no Maranhão, onde os preços pelos serviços são
regulados não pela "lógica do mercado", mas pelo grau de vínculos
mantidos com os diversos "patrões", sejam eles pessoais ou
institucionais. Para dispor desse auxílio, Gama terá que gastar, e muito, para
cobrir os ganhos que os media já acumulam dos dois entes federados.
Caberá a Dino ser "fiel" ou não a Edivaldo na balança político-eleitoral de 2016 ou construir nova "fidelidade" com Eliziane
Por
outro lado, Flávio Dino terá de saber lidar com a liderança das pesquisas que
apontam Eliziane Gama como favorita ao comando do Executivo municipal. E este
"saber lidar" ao qual me refiro tem a ver com a necessidade de ter
sabedoria para incorporar a neorediana ao seu projeto político, sob o risco
iminente de novos e velhos adversários se reforçarem e se reestruturarem para
fazer frente significativa à hegemonia que se pretende alcançar.
Trocando em miúdos, caberá a Dino ser, de fato, "fiel" ou não a Edivaldo na balança político-eleitoral que se avizinha ou construir nova "fidelidade" com Eliziane. Seja como for, para onde pender, irá acumular o bônus e o ônus de sua decisão.
A
própria Eliziane terá de ter essa sabedoria, uma vez que sua postura na Câmara
dos Deputados é de oposição ao governo federal, de quem Dino é aliado. Aliança
esta que o governador busca ampliar e potencializar pelos próximos anos. Para
Gama, ter o governador como aliado é fundamental para uma eventual vitória
eleitoral e, consequentemente, para fins de gestão municipal.
Diante de um
cenário de crise política, com baixo crescimento econômico, aumento da
inflação, previsões até mesmo de recessão e de encolhimento do PIB, onde
prefeitos sofregam para dirigir seus respectivos municípios, contar com o apoio
de Dino no plano regional também pode ser traduzido na edificação de uma profícua
ponte com o Palácio do Planalto.
Daí que
para dar elasticidade e musculatura à sua candidatura, como em toda disputa
eleitoral, é natural que Eliziane assuma uma postura combativa à gestão de
Edivaldo para cimentar as suas propostas. E isso ela fez questão de deixar claro logo no primeiro dia do ano.
A própria população espera isso de um candidato ao colocá-lo em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de voto e ao expressar seu descontentamento com o atual mandatário municipal, cujos índices referentes ao quesito "rejeição" são preocupantes para quaisquer projetos de reeleição.
Contudo, não se pode descurar que o mesmo prefeito a ser combatido é afilhado
político do governador do Estado.
Uma
"operação cirúrgica" de enfrentamento eleitoral, correndo os riscos das implicações e dos efeitos colaterais daí advindos, portanto, é condição sine qua non para Eliziane chegar com chances reais
de vitória em outubro deste ano, sob pena de ser "esmagada" pela união de forças
dos dois palácios mais poderosos do Maranhão.